29 de mai. de 2012

Revista 'Cosmos e Contexto' discute as origens científicas

Criada no CBPF, a publicação, que é digital, busca aproximar saberes, mesmo que opostos, de todas as áreas do conhecimento.

(JC) Uma revista eletrônica criada no Instituto de Cosmologia, Relatividade e Astrofísica (ICRA) do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) vem abrindo espaço para discussões de alto nível sobre as origens das ciências e das linhas de pensamento. A 'Cosmos e Contexto', disponível no site www.cosmosecontexto.org.br, tem como proposta o compartilhamento de saberes que "mesmo por tradição ou interesses pessoais e/ou institucionais tenham sido declarados opostos ou até mesmo irreconciliáveis", segundo sua própria definição.

O ponto comum desse site, que já publicou artigos e textos sobre lógica, filosofia, biologia, política científica e, claro, cosmologia, é a investigação do homem e da natureza. "Somos um grupo que usa a cosmologia como ponto de partida para olhar a cultura e sociedade em geral. E o 'contexto' do título é porque a revista não trata só disso [cosmologia]", detalha o físico e pesquisador do CBPF Mario Novello, idealizador da revista.

"E por que a cosmologia? Porque falamos sobre origens e queremos discutir as origens de todos os procedimentos pelos quais o homem se vê na sociedade: origens da economia, religião, universo, de praticamente de todas as áreas", conta Novello. A revista, que estreou em dezembro, é mensal e sai todo dia 15.

Discussão - Pelo site, já passaram artigos de personalidades como o ex-ministro da Ciência e Tecnologia Roberto Amaral, o filósofo italiano Paolo Rossi e o físico argentino Gustavo E. Romero, que apresentou sua visão do espaço-tempo aproximando-se do pensamento do filósofo grego Parmênides. "Os artigos não são necessariamente inéditos. A ideia não é ser uma revista de divulgação, como já existem várias, e sim começar uma discussão sobre áreas e situações", explica Novello.

Eduardo Bittencourt, doutorando do ICRA e membro da equipe da revista, conta que a publicação tem como uma das vocações "trazer o lado humano da ciência", "o processo de construção onde a ciência está inserida". Ele lembra que desenvolver um pensamento próprio sempre foi a linha seguida pelo grupo de cosmologia no CBPF e que Novello teve a ideia de transformar "esses 40 anos de trabalho [na área] numa espécie de divulgação de transdiciplinariedade de conhecimentos", a princípio, sem um público pré-definido.

"Aqui é o lugar onde as pessoas tentam achar caminhos novos, há anos essas pessoas pensam assim, querem descobrir algo diferente", completa Josephine Rua, também doutoranda e responsável pela sugestão do título da revista. "Porém, até para os próprios cientistas, é difícil humanizar a ciência e trazer o percurso que o cientista tem como humano até chegar numa ideia. É [um processo] importante que acabamos esquecendo porque há outras preocupações, ficamos muito focados no que é preciso produzir, já esperando o resultado", pontua.

Físico e pintor - Para dar exemplo dessa "desmistificação" do cientista, Josephine lembra que um dos números trouxe um lado pouco conhecido do físico Ivano Damião Soares: o de pintor. "Eles são especializados até nos hobbies", observa Josephine, sobre a obra de Soares, especialista em Cosmologia, Relatividade Geral e Gravitação. "Ele é tão competente e dedicado em seu trabalho como físico que foi surpreendente descobrir essa sensibilidade", completa Eduardo.

O doutorando conta que a equipe também aproveita assuntos que estão na mídia, como a recente discussão a respeito da velocidade em que viajam os neutrinos - e que contradizia a Teoria da Relatividade de Einstein. "Buscamos um assunto dado como 'verdade' e procuramos especialistas na área oposta. Foi assim também com a discussão sobre o Prêmio Nobel do ano passado: fomos atrás de um pesquisador que achava que foi precipitado", exemplifica. "Não tomamos partido, mas gostamos de mostrar como as coisas funcionam", acrescenta.

Novello revela que a revista está prestes a iniciar uma nova fase em que vai passar a aceitar artigos. Por enquanto, os textos são de convidados. "Aos poucos isso será aumentado porque senão teremos só um modo de olhar e não queremos isso. A crítica que a gente faz à maior parte das atividades científicas é que elas olham apenas para seu umbigo; a partir de seu conhecimento elas colocam as questões e a ideia nossa não é essa, queremos que haja ideias vindas de fora", ressalta. "Há um movimento muito grande de ideias no mundo. A ciência, assim como a atividade humana, é inesgotável", conclui o pesquisador.

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